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O projeto é de escola, mas o método é de quartel

A Escola Estadual Professor Durval Guedes de Azevedo, em Bauru, adere ao modelo cívico-militar proposto pelo governo de SP. Entenda o que muda com a militarização da escola pública, as polêmicas envolvidas e os impactos desse projeto na educação da periferia. Confira a análise crítica sobre o avanço desse modelo em São Paulo.

O projeto é de escola, mas o método é de quartel
O projeto é de escola, mas o método é de quartel (Foto: Reprodução)

Enquanto a periferia de Bauru clama por investimento real nas escolas, a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo prefere apostar em uma maquiagem autoritária. A Escola Estadual Professor Durval Guedes de Azevedo, no Jardim Ouro Verde, foi uma das primeiras do estado a aderir oficialmente ao projeto das escolas cívico-militares. Mas o que está por trás desse modelo?

Disfarçada de solução para “problemas de disciplina”, a proposta esconde uma lógica de militarização da educação. Soldados da reserva passam a ocupar as escolas ao lado dos professores, não para ensinar, mas para impor regras, fiscalizar comportamento, organizar filas e, em alguns casos, até opinar sobre o funcionamento da escola. O papel do educador vira coadjuvante diante da farda.

A adesão da Durval Guedes foi cheia de polêmica: começou ainda em 2024, sem escuta popular, sem consulta pública decente e com forte resistência do sindicato dos professores (Apeoesp). Teve boletim de ocorrência, denúncia no Ministério Público e até carro de som na porta da escola. Mesmo assim, o governo seguiu em frente — porque o projeto nunca foi sobre educação, e sim sobre controle.

Esse modelo não é novo. Foi marca do bolsonarismo, e mesmo o governo federal atual já enterrou o programa por reconhecer que ele não traz resultado. É um tipo de projeto que não combate os verdadeiros problemas da escola pública: a falta de estrutura, a superlotação das salas, a precarização do trabalho docente e o abandono escolar.

Na prática, transformar a Durval Guedes em cívico-militar é dizer pra periferia que ela não merece pensamento crítico, liberdade pedagógica ou autonomia. É dizer que o filho do trabalhador tem que aprender a obedecer, não a pensar. Que o jovem negro do Ouro Verde precisa de ordem, não de oportunidade.

A pergunta que fica é: quem ganha com isso? Porque a comunidade escolar, ao que tudo indica, não é.

Se queremos de fato melhorar a educação, precisamos de escola viva, plural, com investimento público de verdade e espaço pra que a juventude sonhe. Não de um braço fardado pra apertar ainda mais a realidade de quem já vive sob vigilância constante.

O nome é “cívico-militar”. Mas o cheiro é de autoritarismo.

A transformação da Escola Durval Guedes em cívico-militar escancara uma tendência preocupante: o avanço da militarização sobre a educação pública paulista. Em vez de enfrentar os reais problemas da escola — como a falta de estrutura, de apoio psicológico e de valorização profissional —, o governo aposta na repressão disfarçada de solução.
A comunidade do Jardim Ouro Verde e de toda Bauru precisa reagir: escola é lugar de aprendizado e liberdade, não de quartel.
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