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Novo Ensino Médio, plataformas digitais e Provão Paulista: o enfraquecimento da educação pública em SP

Entenda como o Novo Ensino Médio, o uso de plataformas digitais e o Provão Paulista estão impactando negativamente a educação pública em São Paulo. Uma análise crítica sobre as políticas educacionais e seus efeitos na qualidade do ensino.

Novo Ensino Médio, plataformas digitais e Provão Paulista: o enfraquecimento da educação pública em SP
Novo Ensino Médio, plataformas digitais e Provão Paulista: o enfraquecimento da educação pública em SP (Foto: Reprodução)

Nos últimos dois anos, a educação pública no estado de São Paulo tem enfrentado um processo acelerado de sucateamento.

Reformas mal planejadas, como o Novo Ensino Médio, o uso indiscriminado de plataformas digitais e a implantação do Provão Paulista, vêm agravando a exclusão educacional e comprometendo o papel da escola pública como espaço de formação cidadã. O que se vê é um modelo cada vez mais voltado à lógica do mercado, enfraquecendo o pensamento crítico e precarizando o trabalho dos educadores.

Plataformas digitais: solução emergencial que virou desculpa permanente

Durante a pandemia, a implementação de plataformas digitais foi uma alternativa emergencial para manter o ensino em funcionamento. No entanto, passados os momentos críticos, a tecnologia passou a ser tratada como solução definitiva para problemas estruturais, ignorando a realidade de milhares de estudantes que enfrentam dificuldades de acesso à internet, falta de equipamentos e ambientes propícios ao estudo.

Na prática, essas plataformas desumanizam o processo educativo, retiram a interação direta entre professor e aluno e aprofundam a desigualdade de aprendizagem. Em Bauru, escolas periféricas ainda lutam com infraestrutura básica, enquanto os estudantes lidam com conteúdos empacotados, automatizados e muitas vezes desconectados de sua realidade.

Novo Ensino Médio: flexibilização que exclui

Com a promessa de tornar o currículo “mais atrativo”, o Novo Ensino Médio reformulou a carga horária das disciplinas obrigatórias e introduziu os chamados "itinerários formativos". No entanto, na prática, essa mudança resultou em cortes severos nas matérias essenciais como Matemática, História, Geografia, Língua Portuguesa, Filosofia e Sociologia.

O modelo oferece menos conteúdo e mais superficialidade. Em vez de uma formação crítica e plural, o que se oferece é um cardápio de disciplinas técnicas e de empreendedorismo que preparam os jovens para se adaptarem a empregos precarizados, e não para questionarem a sociedade em que vivem. É a chamada educação industrial, que forma mão de obra barata, mas não cidadãos conscientes.

Provão Paulista: cobrança sem estrutura

Implantado em meio a essas reformas, o Provão Paulista é uma avaliação aplicada aos alunos da rede estadual, com a proposta de usá-lo como critério de ingresso em universidades públicas paulistas. A ideia poderia ser interessante, se houvesse investimento real na qualidade do ensino. Mas a realidade é outra.

O Provão se tornou mais uma forma de cobrança que recai sobre estudantes e professores sem oferecer as condições mínimas para que se alcancem bons resultados. Ao invés de promover equidade, a avaliação escancara as desigualdades: quem estuda em escolas com boa estrutura vai melhor; quem está na periferia, sem recursos e com ensino fragmentado, carrega o peso do fracasso de um sistema.

Professores sem voz e sem apoio

No centro desse processo estão os professores, que perderam autonomia pedagógica com as reformas. As mudanças no currículo, aliadas à pressão por resultados em avaliações externas, forçam os educadores a seguirem roteiros prontos, com pouca margem para adaptar o ensino às necessidades reais das turmas.

Além disso, a sobrecarga de trabalho, os baixos salários e o desrespeito à categoria têm levado muitos professores ao adoecimento e ao desânimo. Em vez de valorização, recebem metas, cobranças e plataformas automatizadas que transformam a sala de aula em linha de montagem.

Educação como ferramenta de controle

O modelo que está sendo imposto no estado de São Paulo — e que se espalha para outros lugares — não tem como objetivo a emancipação. Trata-se de uma educação tecnicista, que anestesia, que ensina pouco e cobra muito, e que retira do aluno a possibilidade de entender sua realidade para transformá-la. A retirada das disciplinas críticas, como Filosofia, Sociologia e História, não é coincidência: ela atende a um projeto de silenciamento e conformismo.

A educação pública precisa voltar a ser espaço de construção coletiva, reflexão e transformação. Isso só será possível com a valorização dos professores, o resgate das matérias essenciais, o fim das reformas precarizantes e o compromisso real com os estudantes da periferia.


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