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“Cê é loko, não compensa”

tarifa de ônibus em Bauru sobe para R$ 5,75 Mesmo com subsídio, tarifa de Bauru é uma das mais caras do estado — e o transporte continua precário.

“Cê é loko, não compensa”
“Cê é loko, não compensa” (Foto: Reprodução)

A Prefeitura de Bauru anunciou nesta semana o aumento da tarifa do transporte coletivo para R$ 5,75. Mesmo com repasses de dinheiro público para subsidiar parte do valor, a cidade segue entre as que têm as tarifas mais caras do estado de São Paulo. E o mais grave: o alto custo não se reflete em um serviço de qualidade.

Com o reajuste, Bauru ultrapassa a capital paulista, onde o valor da tarifa é de R$ 5,00. Em São Paulo, o passageiro tem acesso a ônibus com ar-condicionado e integração com outros modais, como trem e metrô. Já em Bauru, o sistema não oferece nem o básico. A diferença no preço, considerando a precariedade local, chama atenção e revolta quem depende do transporte diariamente.

Além da passagem cara, a cidade enfrenta um problema que se agrava com o calor: a maioria dos ônibus não tem ar-condicionado, mesmo sendo uma das cidades mais quentes do estado. A temperatura dentro dos veículos pode ultrapassar os 50°C. Há uma proposta de lei para climatizar toda a frota, mas o projeto segue parado.

Os maiores prejudicados com esse cenário são os trabalhadores e motoristas, que lidam com jornadas exaustivas, veículos antigos e calor excessivo. Do outro lado, os passageiros enfrentam ônibus lotados, mal ventilados e com pouca frequência. O resultado é um sistema que castiga justamente quem mais precisa dele.

A falta de estrutura também afeta a saúde da população. Ônibus superlotados e mal ventilados se tornam focos de transmissão de doenças respiratórias e infecciosas, como gripes, tuberculose e até gastroenterites. Em plena crise sanitária e com altas temperaturas, a negligência com o transporte vira também um problema de saúde pública.

Outro ponto de crítica é a gestão da Emdurb, empresa municipal que opera parte do sistema. A companhia teve as contas rejeitadas pelo Tribunal de Contas do Estado de São Paulo. A auditoria apontou um rombo de R$ 5 milhões, dívidas acumuladas, INSS atrasado e uma gestão classificada como de risco. Mesmo assim, a Prefeitura segue apostando nesse modelo, sem transparência e sem retorno para a população.

Diante de tudo isso, o aumento da tarifa é visto por muitos como injustificável. Um serviço mal gerido, desconfortável e ineficiente não pode custar tão caro. Em Bauru, o reajuste veio antes de qualquer melhoria. E quem depende do transporte público continua sendo deixado de lado.

Frases como “Se fosse ruim mesmo, pegava Uber!” ou “Se quiser conforto, compra um carro!” viraram respostas comuns quando se critica o sistema. Mas a verdade é que não dá pra normalizar esse descaso. Pagamos uma das maiores cargas de impostos do mundo. E ainda assim, o transporte público segue caro, precário e excludente.

Gratuidade e qualidade no transporte não são utopia — são obrigações do Estado. E Bauru, mais uma vez, está longe de garantir esse direito.

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