AINDA ESTOU AQUI: UMA REVOLUÇÃO BRASILEIRA NO OSCAR 2025
Pela primeira vez, uma produção brasileira disputa o prêmio de Melhor Filme, ; além de concorrer também a outras duas premiações - um marco em uma premiação com o histórico de valorizar apenas Hollywood

O cinema brasileiro fez história nesta quinta-feira (23) com a indicação de Ainda Estou Aqui à categoria de Melhor Filme no Oscar 2025. Dirigido por Walter Salles e estrelado por Fernanda Torres, que também concorre ao prêmio de Melhor Atriz, o longa também recebeu uma nomeação em Melhor Filme Internacional. A produção, original do Globoplay, é um marco que celebra a força do cinema nacional em um evento historicamente dominado pela indústria hollywoodiana.
Embora seja uma conquista histórica, a presença de um filme brasileiro entre os indicados ao prêmio principal destaca uma longa luta por reconhecimento de produções fora do eixo norte-americano. Desde sua criação em 1929, o Oscar valorizou majoritariamente filmes produzidos nos Estados Unidos, com apenas uma categoria dedicada às produções de língua estrangeira a partir de 1957 — hoje renomeada como Melhor Filme Internacional. Essa mudança de nomenclatura, implementada em 2019, refletiu um esforço tardio da Academia em promover uma visão mais inclusiva do cinema global. No entanto, as regras de elegibilidade ainda são controversas, como no caso da desclassificação do filme nigeriano Lionheart (2018), por ser majoritariamente em inglês.
Para o Brasil, a trajetória no Oscar é repleta de desafios. Antes de Ainda Estou Aqui, apenas quatro filmes nacionais foram indicados na categoria de Melhor Filme Internacional: O Pagador de Promessas (1963), O Quatrilho (1996), O Que É Isso, Companheiro? (1998) e Central do Brasil (1999). Outros destaques incluem Cidade de Deus (2004), que recebeu quatro indicações, incluindo Melhor Direção para Fernando Meirelles, e Democracia em Vertigem (2020), indicado a Melhor Documentário.
A exclusão frequente de produções estrangeiras no Oscar tem suas raízes no peso que a indústria hollywoodiana exerce sobre a premiação. Como apontou o ator Ricardo Oshiro em entrevista ao Contraponto Digital, “o Oscar não é o prêmio do cinema, é o prêmio dos americanos e de Hollywood”. Ele celebrou os avanços na inclusão de filmes internacionais, mas destacou que a busca por diversidade pode estar atrelada a interesses mercadológicos. A crescente influência do mercado chinês, por exemplo, é um fator determinante nas estratégias de produção e distribuição de grandes estúdios.
A presença de Ainda Estou Aqui no Oscar 2025 representa uma vitória significativa para o Brasil. Em um ano em que produções como o francês Emilia Pérez lideram com 13 indicações, o reconhecimento de um filme brasileiro na categoria principal é um marco que amplia o alcance do cinema nacional e reforça a importância de narrativas globais. Resta agora aguardar a cerimônia de 2 de março para saber se o Brasil conquistará, enfim, sua primeira estatueta dourada.
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